quarta-feira

A Noiva de São Martinho e o Príncipe-Músico

Era uma vez uma menina de 19 anos, muito bonita e doce que chegava à casa do mesmo senhorio onde eu vivia. Acompanhada pelos pais, irmã, cunhado, ursos de peluche, dezenas de almofadas cor de rosa, a Leonor vinha para ficar, estudante como eu, na então alegre e divertida cidade de Faro. Entre lágrimas partilhadas por todos que a amavam e mimavam desde que tinha vindo ao mundo e recebido o nome Leonor, esta menina despedia-se dos familiares e enfrentava dois novos desafios na vida: o primeiro viver longe de casa e da família, o segundo começar o curso de enfermagem que adorava e que imaginava ser o seu futuro. Sempre adorou pessoas e, especialmente tomar conta delas. Fá-lo com uma ternura e dedicação, como mais ninguém. Ficámos amigas e, um dia disse-lhe que achava muito engraçado o facto de conhecer um rapaz, o Pedro, estudante de Informática e músico-nas-horas-livres cuja personalidade eu achava que tinha muitas semelhanças com a dela. Achava que eram o mesmo, verdade seja dita, na forma de estar, de falarem calmamente e até de rirem com as melhores piadas do Herman Enciclopédia (a passar na altura), mas sem darem muito nas vistas. Conheceram-se numa jantarada de Jambalaya que confeccionei para um grupo de amigos-cobaias, sem perceber nada daquilo que estava a pôr na panela (salsa ao molho-frutas-carnes-e-fé-em-Deus), depois ajudei o príncipe-músico a preparar uns temas para uma serenata do melhorzinho (not!) que podia haver e, o que é certo é que, num fim de semana em que fui a casa dos pais, os meus amigos Pedro e Leonor combinaram, sorrateiramente, tomar café na antiga esplanada das Pirâmides, junto à marina de Faro. Levaram duas ou três semanas a beber café (a desculpa para o encontro foi esta) e, iniciado o namoro ficaram a saber que nem um nem outro gostava de café! Ficaram entupidos de cafeína até mais não e má disposição pós-convívio mas, ao menos, encontraram o Amor. E ainda bem que sim, porque vejo-os como um exemplo de match perfeito! Uns anos mais tarde, o quintal da irmã da Leonor serviu de cenário-à-pressão para, talvez ainda sob algum efeito da cafeína, alguém se apressar a perguntar: Então, quando casamos? A resposta foi rápida (a cafeína não perdoou a nenhum dos dois): Olha, para o ano, que tal?. Fixe!, (Imagino o Pedro a dizer isto, como o diz tantas vezes), nem mais...vamos já decidir o dia...Casaram no dia 12 de Maio de 2001, na Igreja de São Martinho de Sintra, a escassos metros do hospital onde a Leonor nasceu, sendo assim também natural da Freguesia de São Martinho de Sintra. Curiosamente, Joana, a primeira filha deste casal nasceu no dia de São Martinho. De acordo com a lenda, na véspera e no Dia de São Martinho o sol aparece e o tempo aquece. Também quando a Leonor com o seu olhar doce e enorme coração apareceu na vida do Pedro, tudo se tornou mais claro e bonito para ele e até dezenas de chávenas de café quente souberam melhor que as típicas castanhas ou a tal Jambalaya que, só Deus e São Martinho sabem como se comeu.