terça-feira

A Noiva, o Noivo e o Barco à... Bela

Um barco... um barco que era navio. Um navio de guerra que, aos olhos do coração bom de alguém, pintou-se de rosa claro e cobriu-se de amor. Um barco à Bela, porque era ao estilo e sentimento de Bela, uma rapariga que olhava para aquele navio de guerra e, enquanto esperava o seu amor, transformou aquela embarcação de Vera Cruz no mais belo dos barcos, naquele onde viria o homem que sempre desejou vir até si, por terra, pelo mar... mas sobretudo, enviado pelo céu. Deus e mais alguém especial o enviara até si.
Esta é a história de Bela, uma rapariga bonita, alta e de sorriso e coração maiores que o mundo, naquele tempo em guerra, a quem um dia falaram de Francisco, um rapaz que tal como tantos outros, não sabia porquê, mas combatia em Angola. Disseram-lhe que a sua madrinha de guerra, não se sabe também porquê, um dia deixara de lhe escrever. Matilde, a irmã de Francisco procurava agora, junto da sua igreja, uma nova correspondente para o seu irmão. Falou dele a Bela, confiou-lhe a história,  vida e esperança do irmão e, trouxe-lhe Deus a fé e certeza que aquela seria a sua missão neste planeta. Morreu jovem, a Matilde... muito bonita e certa de si e do que a tinha feito correr para juntar a pessoa perfeita ao seu irmão. Há pessoas assim, Matildes e maravilhas de carne, osso e espírito bom que têm apenas uma missão na terra... juntar corações. Um dia, partem em absoluta paz consigo próprias e cheias de amor.
Bela e Francisco namoraram dois anos por carta. Contam as filhas, Rita e Cristina - minhas amigas de infância e mulheres da admiração dos pais e de todos os que têm a sorte de conhecê-las - que Bela e Francisco escreveram cartas lindas. Enviavam fotos e as melhores palavras que conseguiam encontrar para expressar sentimentos a alguém que, não conhecendo, com o passar do tempo, foram sentindo como parte da sua vida, presente e futura. Um dia, Francisco escreveu a Bela a melhor e mais empolgante das cartas. Ia regressar a Portugal. Bela ficou feliz, nervosa e curiosa. Nunca se tinham visto, falado ou partilhado o que quer que seja em pessoa. Respondeu-lhe que lhe enviaria uma bandeira, que ela própria faria para ele lhe acenar quando desembarcasse. O tempo passou. Francisco sentia-se feliz. Aprendera que o desconhecido tem duas faces, a mais negra quando se desconhece a razão porque se é destacado para uma guerra. A mais bela, quando se sabe que alguém nos espera e nos ama. Bela avistou-o ainda em África, o seu coração cheio de amor, nervosismo e simplicidade embarcou com ele, colocou-lhe a bandeira gentilmente nas mãos e deixou-se navegar... sempre ao seu lado. No porto de Lisboa, esperavam-no os seus pais, os seus futuros sogros e Bela... Oh, mas ela é tão bonita. Minha Bela... gostarás de mim, minha Bela? E nestes pensamentos e dúvidas e alegria e comoção de regressar e oh tanto nervosismo... Francisco ergue a bandeira, símbolo de tanta coisa... de amor, de se estar vivo! - imagem que anos mais tarde, virá a passar em documentário televisivo sobre a Guerra do Ultramar. Casou com a sua Bela, e nestes 45 anos de verdadeiro amor e companheirismo recorda sempre o início das suas cartas à sua madrinha de guerra: ofereço à minha querida correspondente... terminando com: um beijinho saudoso. E com esta história, sempre que alguém a conta, sorri a outrora noiva, o noivo, as filhas, a amiga de infância, Deus e a Matilde... que foi a primeira a escrever esta história, em azul clarinho, cor do céu e dos sonhos.